Somos seres que contam histórias, moldados tanto pelas narrativas que herdamos quanto pelas que criamos. Cada escolha que fazemos, cada sentimento que carregamos, está inserido num diálogo entre nosso mundo interior, o microcosmo, e as forças cósmicas maiores que nos sustentam, os macrocosmos. Essa tensão dinâmica, essa dança do Yin e do Yang, do subconsciente e do supraconsciente, forma o terreno onde nossa realidade consciente é construída. Quanto mais nos sintonizamos com os padrões tanto da nossa marca natal quanto dos arquétipos universais, mais claramente conseguimos reconhecer os mitos que temos vivido. A partir desse lugar de consciência, contar histórias se torna um ato sagrado — não de ficção, mas de recordar, reivindicar e re-tecer a verdade de quem somos. O que segue é minha própria recordação.
O Ritmo do Meu Tornar-se
Nasci em um lar onde a mente era exaltada, onde o conhecimento usava terno, e a verdade era medida em notas, diplomas e respostas limpas e definidas. Mas mesmo quando criança, eu caminhava de forma diferente. Meus olhos buscavam a beleza, minhas mãos moldavam o invisível, e meu coração ardia por uma justiça que eu ainda não sabia nomear. Era a única menina entre irmãos, nascida na Colômbia, em uma família que me amava, mas nem sempre compreendia o fogo que eu carregava. Eu não o falava, eu o pintava, o movia, o vivia. Minha mãe viu essa centelha. Nunca tentou apagá-la. Em vez disso, me deu asas feitas de silêncio e confiança. Ela me ensinou que minha diferença não era um defeito, mas uma frequência. E assim cresci sendo uma menina que conhecia seu valor, não pela comparação, mas pela criação.
Acreditava que tudo o que eu precisava vivia dentro de mim. E, se não vivesse, eu encontraria ou criaria. Meu mundo interior era profundo, dialógico, vivo. Eu não tinha medo de entrar na escuridão para encontrar uma resposta. Recebia a profundidade como companheira. Havia uma espécie de música dentro de mim que não seguia a lógica, seguia o sentimento. Eu me perdia em conversas, em arte, naquela curiosidade que deixava outros desconfortáveis. Mas para mim, era lar.
As palavras sempre quiseram significar algo a mais. Nunca fui uma menina dos números. Meus números estavam escondidos, viviam em símbolos, em cores, em códigos intuitivos que só meu corpo sabia decifrar. Sempre fui atraída pela filosofia, não pela matemática; pela beleza, não pela medição. E embora me sentisse uma estranha no mundo acadêmico, era leal e estruturada à minha própria maneira. Criava beleza com disciplina. Encontrava ritmo na devoção. Onde quer que eu fosse, carregava o lar dentro de mim, e o tornava belo.
Aos quinze anos, deixei a Colômbia para estudar no exterior. Uma garota de olhos grandes e coração ardente, me plantei em solo estrangeiro e cresci através da resiliência. Sabia como sobreviver. Sabia como florescer. Mas só despertei de verdade para meus valores quando me pediram para criar uma campanha de cigarro voltada a crianças de doze anos. Eu disse não. Fui demitida. E, nessa ruptura, renasci. Aos vinte e um, vivia nos EUA, começando minha própria empresa de design.
Me mudei para Nova York com nada além de visão. Comecei de novo. Criei a partir da alma. Não queria amplificar mensagens que não fossem minhas. Queria embelezar o mundo com sentido, com conexão, com verdade. E assim, segui o fio do que era real, das artes marciais ao yoga, da respiração à presença. Comecei a construir uma arquitetura interior. Um tipo de higiene espiritual. Uma forma de viver onde o ritual não era performance, mas pulso. Onde coerência não era uma ideia, mas um estado de ser.
À medida que caminhava esse caminho, tornei-me ferozmente criteriosa com meu tempo, minha energia, meus compromissos. Quando escolho algo, ou alguém, trago tudo de mim. Amacio as bordas do eu para me fundir com o outro, com separação honrei o Yang que se tornou meu companheiro de alma. Protejo o que amo com a intensidade de uma guerreira e a suavidade de uma mãe. E a vida, claro, me trouxe suas iniciações. Caminhei pela perda, pela incerteza, por finais que pareciam rompimentos. Mas nunca me endureci. Aprendi que a verdadeira força é a capacidade de permanecer suave em meio ao caos. Que a verdadeira estabilidade é fazer harmonia com a verdade de que tudo muda.
Minha mente sempre foi uma buscadora inquieta, curiosa, vasta. Nunca me satisfiz com meias verdades. Estudava não para acumular conhecimento, mas para recordar o que já sentia nos ossos. Minha conexão com o reino das plantas não começou nos livros, mas na sensação. Queria saber o que as plantas sentiam. Queria sentir com elas. Isso me levou a estudar sua medicina, pelo aroma, pela presença, pelo corpo. Minhas mãos tornaram-se tradutoras de sua frequência. Seu silêncio me ensinou a escutar. Suas raízes me ensinaram a permanecer. Faço voto como devota.
E então me tornei mãe. Não apenas do meu filho, mas da minha própria criança interior. Das minhas clientes. De cada ser que vem até mim buscando segurança em sua transformação. Aprendi o que significa amar incondicionalmente, sustentar espaço, sustentar dor, sustentar possibilidade. Encontrei meu propósito não num título, mas no ato de testemunhar alguém retornar a si. Isso se tornou meu trabalho: guiar outros de volta à sua essência, com suavidade, sabedoria, com o sopro das plantas, o ritmo do corpo, o tempo das estrelas.
Nunca caminhei sozinha. Fui apoiada por uma constelação de mentores, aliadas e forças invisíveis. Acredito no coletivo. Acredito no invisível. Acredito no tempo sagrado de tudo. Tanto quanto os tenho, eles me têm por completo.
E sim, toquei a escuridão. Desabei, chorei, duvidei. Mas sempre retornei à luz, não porque a persegui, mas porque ela sempre viveu dentro de mim. A magia tem sido minha bússola. A alquimia, minha companheira. Não preciso entender tudo para confiar. Não preciso de provas para acreditar. Estou aqui para sentir. Para guiar. Para recordar.
E para ajudar outros a fazerem o mesmo.